Os países de todo mundo não vão conseguir cumprir as metas de redução das emissões que causam o aquecimento global do planeta se não diminuírem o consumo desnecessário e não recorrerem urgentemente a uma economia circular, onde os recursos são reutilizados, afirmam os Ministros do Ambiente e os executivos de topo
Numa economia circular, materiais como os metais, mineiras e plásticos são reciclados para diminuir o desperdício e, consequentemente, a poluição que prejudica o meio ambiente e o planeta. De acordo com a empresa Circle Economy, apenas 8,6% dos 100 mil milhões de toneladas de materiais utilizados anualmente têm uma nova vida.
«O que precisamos de divulgar, com muito mais força, é a incrível importância de uma economia circular como instrumento para alcançar os nossos objetivos climáticos», afirmou Stientje van Veldhoven, ministra do Ambiente dos Países Baixos num webinar organizado pelo World Resources Institute (WRI), citada pela Reuters. A ministra disse ainda que esta mudança deverá ser «muito mais importante na agenda política».
Num relatório recente, a Circle Economy pediu aos governos que concebessem os respetivos planos de recuperação económica face ao Covid-19 para impulsionar a reciclagem e a reutilização, uma vez que a adoção de medidas circulares no transporte, habitação e alimentação pode reduzir as emissões em cerca de 40%.
Em vez de usar recursos e materiais para fabricar produtos e depois desfazer-se deles, o conceito de economia circular visa projetar resíduos e poluição fora das cadeias de aprovisionamento, mantendo os produtos em utilização durante mais tempo, reciclando também os componentes que os constituem.
O Chile, segundo a ministra do ambiente Carolina Schmidt, está já a efetuar esta mudança, assim como outras 10 nações latino-americanas que se comprometeram a seguir o exemplo. «A contribuição notável de uma economia circular é o papel de alcançar a meta de neutralidade de carbono», refere em relação às metas estabelecidas por um número crescente de países para reduzir e tornar zero as emissões dos gases de efeito de estufa até meados do século.
A nível global, optar por energias renováveis poderá diminuir as emissões de carbono em 55%, mas a percentagem restante teria de ser solucionada pela transformação dos modelos de produção.
A adoção de uma economia circular pode gerar dois biliões de dólares (1,65 biliões de euros) de oportunidades suplementares para a economia global até 2050, criando também empregos, enquanto se promove a inovação. «Uma economia circular não é apenas uma possibilidade – é uma necessidade e uma grande oportunidade», garante Carolina Schmidt.
Consumo excessivo
Organizada pela WRI, a Platform for Accelerating the Circular Economy (PACE) alberga várias empresas, governos e sociedades que acreditam que a estratégia circular deve focar-se em sectores-chave como os plásticos, têxteis, eletrónica, alimentação, bens de equipamento como scanners médicos, equipamentos agrícolas e infraestruturas produtivas.
Os dados da Nações Unidas revelam que a quantidade de materiais que o mundo usa triplicou desde 1970 e pode duplicar novamente até 2050 se nada for feito nesse sentido.
Inger Andersen, chefe do Programa Ambiental da ONU, considera que, nesta problemática, os consumidores podem desempenhar um papel crucial na mudança para uma economia circular, visto que dois terços da pegada de carbono global são gerados pelas famílias. «Esse consumo excessivo precisa de ser reduzido», assegura.
Embora 130 países tenham assumido compromisso zero nas emissões líquidas, o uso de combustíveis fósseis não está a diminuir a um ritmo suficiente rápido para cumpri-los. «Trazer circularidade e energias renováveis é o único caminho a seguir», explica Inger Andersen.
Frans van Houten, CEO da Philips, acrescenta ainda que as empresas têm um papel fundamental e, por isso, devem ser modelos a seguir. A Philips está num processo de aprendizagem para introduzir estratégias circulares como a reciclagem de plástico e a devolução de grandes equipamentos médicos não utilizados.
Por sua vez, a gigante tecnológica Apple, cujas operações são neutras em carbono, estão a trabalhar com o mesmo objetivo nas cadeias de aprovisionamento globais que usam materiais diferentes, desde terras raras ao cobre. «Isso leva-nos realmente ao próximo nível, que é a nossa cadeia de aprovisionamento e a neutralidade de carbono para o ciclo de vida dos nossos produtos», resume Lisa Jackson, vice-presidente do meio ambiente, políticas e iniciativas sociais.