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Uma invenção só se torna inovação quando impacta a vida das pessoas. Um exemplo sólido desse conceito deve estar nas ruas de Curitiba ao longo de 2023. A partir de uma parceria entre indústrias, Sistema Fiep e a ONG Gerando Falcões carrinheiros de Curitiba poderão ser beneficiados com um modelo de carrinho elétrico. Batizado de Projeto Formiga, o desenvolvimento contou com o apoio das empresas ELO Baterias, Rhino e Two Dogs. O Senai e o Sesi no Paraná aproveitaram a expertise dos Institutos Senai de Inovação e Tecnologia para fazer as pesquisas e montar o protótipo – participaram o Instituto Senai de Inovação em Eletroquímica (ISI-EQ), especializado na produção de baterias recarregáveis e eletrificação veicular, e o Instituto Senai de Tecnologia Metalmecânica, responsável pela estrutura do carrinho.
As instituições desenvolveram um modelo que preza pela ergonomia e pela usabilidade. Durante quatro meses, as equipes de engenharia e design do Senai elaboraram o projeto técnico, enquanto o time de responsabilidade social foi a campo entender as principais necessidades dos trabalhadores de coleta. “Analisamos tudo o que geraria valor para os carrinheiros em um novo modelo, desde carregar peso com mais facilidade até itens de proteção para sol e chuva e espaço para armazenar alimentos separadamente”, conta Fabrício Luz Lopes, gerente executivo de Tecnologia, Inovação e Responsabilidade Social do Sistema Fiep. Ao todo, 40 profissionais participaram do desenvolvimento do Projeto Formiga.
Ainda que seja “novo”, o carrinho elétrico mantém as características do modelo manual. A ideia é facilitar a adaptação dos trabalhadores com um produto funcional que se assemelhe àquilo que já estão acostumados. “É importante entender o que o usuário precisa e como o carrinho pode ser melhorado”, destaca Fabrício. Um dos destaques são as baterias compartilhadas – o carrinheiro utiliza a bateria durante o dia e, ao voltar para a comunidade, apenas troca por outra carregada para poder trabalhar no dia seguinte.
Autonomia para trabalhar
Além da bateria elétrica recarregável, o novo modelo tem quatro rodas e utiliza soluções de engenharia que já existem no mercado, como fitas de barcos de pesca, faróis e pisca para aumentar a segurança no trânsito. Tudo foi projetado para reduzir riscos laborais e dar mais autonomia às famílias que dependem da coleta de recicláveis. Em Curitiba, 57% dos profissionais de reciclagem são mulheres, como a dona Rosângela, moradora da Vila Torres. Atualmente, ela trabalha com o marido, o seu João, tanto puxando o carrinho quanto auxiliando quando ele quebra. “Se o João estiver doente, eu posso ir no lugar dele e trazer a mesma carga”, diz. Em média, o casal carrega 600 kg de material por dia. O carrinho elétrico não precisa de tração humana, tem guidão mais maleável e trará mais segurança no transporte dos recicláveis: os usuários só poderão acessá-lo por um lado, o da calçada.
Em paralelo, o Senai e o Sesi no Paraná estão focados na qualificação de pessoas como a dona Rosângela, o seu João e demais trabalhadores de coleta de recicláveis. As instituições vão formar as pessoas das comunidades para que aprendam a utilizar o carrinho elétrico e possam fazer as manutenções necessárias. “Nosso papel é desenvolver tecnologia e educação. Com o apoio da ONG Gerando Falcões, vamos potencializar esse projeto nas diversas comunidades”, complementa o gerente executivo de Tecnologia, Inovação e Responsabilidade Social do Sistema Fiep.
Próximos passos
O carrinho elétrico desenvolvido pelo Senai no Paraná será lançado oficialmente no início de 2023 e precisará de patrocínio para entrar em produção. Também está prevista uma agenda com os órgãos públicos que vão auxiliar na implementação do projeto – entre eles, a prefeitura, a secretaria de urbanismo e a fundação de ação social. O movimento de buscar apoio e estruturar a parte prática do projeto será encabeçado pela Gerando Falcões, que tem ampla atuação nas comunidades mais vulneráveis da capital paranaense. “Vamos buscar os órgãos competentes para estabelecer a melhor maneira de difundir a inovação. Temos um produto viável, que hoje custa entre R$ 10 e R$ 15 mil para produzir, isso sem escala”, pontua Fabricio. O escalonamento deve reduzir ainda mais o custo – o apoio da iniciativa privada pode ser tanto financeiro quanto fabril. Quando os carrinhos estiverem rodando, empresas também poderão divulgar produtos e serviços na própria estrutura, que terá espaço para banners, ajudando a incrementar a renda dos catadores.
O Projeto Formiga cumpre os três pilares das pautas ESG. “É uma iniciativa que nasce com alto impacto social, baixo impacto ambiental e tem um ciclo de inovação de governança. Leva este nome porque os carrinheiros, assim como as formigas, carregam várias vezes seu próprio peso todos os dias, mesmo sendo invisíveis à sociedade”, ressalta Fabricio. Para o diretor da ONG Gerando Falcões, Eduardo Lyra, “O Projeto Formiga é um exemplo de agenda de colaboração que vai entregar muita inovação social para resolver problemas da vida social brasileira, sobretudo impactar positivamente a qualidade de vida das populações mais vulneráveis do país”.
Fonte: G1 – Sistema Fiep